O Bitcoin e o setor logístico

Revista Cargo (Portugal – o português tem algumas palavras com grafia diferente)

A Bitcoin é, de entre as várias criptomoedas (moeda digital) que têm sido lançadas nos últimos anos, aquela que vai ganhando mais força à escala global, atingindo recordes de valorização nos últimos dias. Há alguns dias atrás, a valorizaçao da Bitcoin em 2017 estava nos 1700%!

A grande discussão actual tem sido feito em redor da viabilidade das moedas virtuais. Uns dizem que não passam de mera especulação mas outros defendem-nas como o futuro do sistema, descentralizando-o e criando um sistema bancário livre, permitindo transacções financeiras sem intermediários (nomeadamente bancos) mas acessíveis a todos os elos da rede Bitcoin e guardados no banco de dados do Blockchain – outra inovação que vem sendo acompanhada de perto aqui na Revista Cargo.

Uma mera moda que está de passagem ou o futuro das transacções financeiras? Ainda não há uma resposta verdadeiramente concreta para esta questão mas a verdade é que o mercado parece mais entusiasmado do que nunca: A Bitcoin tem uma valorização cada vez maior, fruto de uma procura também ela crescente em todo o mundo!

Primeiras utilizações de Bitcoins no shipping chegam de Leste

Como não poderia deixar de ser, o fenómeno das criptomoedas também já vai surgindo no sector dos Transportes e da Logística, como em muitas outras actividades económicas a envolver as devidas transacções financeiras.

Há poucos dias, uma companhia marítima ucraniana foi notícia em todo o mundo por começar a aceitar pagamentos em Bitcoins, algo que foi anunciado como a primeira aparição das moedas virtuais no sector do shipping.

A companhia em questão – denominada Varamar Ltd. – anunciou que estava a negociar o primeiro acordo em Bitcoins com um dos seus clientes, admitindo que o uso da criptomoeda tornará mais fácil fazer negócios com clientes em países afectados por sanções: «Pode ajudar a resolver problemas de pagamentos em países como o Paquistão, a Rússia, o Sudão, o Iémen ou o Qatar que, apesar de terem empresas fiáveis, são vítimas de sanções impostas aos seus governos», admitiu o fundador da Varamar Ltd., Alexander Varvarenko.

Por outro lado, Varvarenko enalteceu ainda o potencial das moedas virtuais ao nível da redução da papelada quando comparado com os negócios tradicionais feitos através dos bancos.

bitcoinTambém da Rússia surgem notícias de outras empresas do sector com interesse concreto nas moedas digitais. A Interchart LLC, broker russo, admitiu que alguns dos seus clientes não estão a ter facilidades em negociar em dólares, devido a restrições nos bancos, pelo que criptomoedas como a Bitcoin podem ser a solução.

«Ainda temos de fazer o nosso trabalho de casa nesta matéria pois são novas formas de fazer pagamentos», admitiu Ivan Vikoulov, Director Geral da Quorum Capital, um trader com base em Gibraltar e que também olha atentamente para esta nova solução, estando a trabalhar já em conjunto com a Interchart no sistema de Bitcoin.

«A indústria está sob stress porque a maioria dos navios está em paraísos fiscais e muitos armadores têm bancos nos Bálticos, onde há restrições para pagamentos e recebimentos em dólares», acrescentou ainda Vikoulov.

Qual o futuro de criptomoedas como a Bitcoin neste sector?

Gigantes multinacionais como a Microsoft ou a Expedia já aceitam hoje pagamentos em Bitcoins, algo que deu ainda mais força à criptomoeda. Vários são os sectores de actividade comercial onde a Bitcoin e outras moedas virtuais começam a ser utilizadas, e o sector dos Transportes e Logística não poderia ficar de fora – como já se viu nalguns exemplos dados acima.

logisticaMas em relação ao potencial da Bitcoin nos Transportes e Logística, os especialistas mantêm reservas. Por um lado, é inegável a sua mais-valia no que diz respeito a contornar restrições dos bancos – nomeadamente derivadas de questões políticas e de sanções acima referidas. Porém, o Bitcoin continua a ser visto como um sistema “verde” e pouco consolidado, tendo ainda o seu caminho a percorrer antes de ganhar verdadeira dimensão no sector.

Jeffrey Currie, da Goldman Sachs, admitiu recentemente que há dois aspectos fundamentais a resolver na questão da criptomoeda Bitcoin, se quer ser vista como o mercado do ouro. O primeiro aspecto é a sua volatilidade, algo comprovado com as constantes e drásticas variações de preço. Por outro lado, tal como o mercado do ouro, a Bitcoin também precisa ser segura – isto porque as criptomoedas são habitualmente vulneráveis a ataques de hackers, para além dos riscos da regulação ou da rede e infraestruturas em momentos de crise.

O responsável da Goldman Sachs admite ainda que não será a Bitcoin a moldar o shipping mas sim o Blockchain, o qual acredita que terá um importante papel a desempenhar na indústria – como de resto tem vindo a ser noticiado na Revista Cargo através de várias abordagens novas da indústria a essa nova tecnologia.

Não quer isto dizer que a Bitcoin e outras moedas digitais não possam ter os seus efeitos no sector – porque, consolidando a sua presença, o sector não poderá ficar de fora. Mas uma coisa parece clara: O Blockchain, esse sim, deverá ser a chave do futuro do Shipping.

A Bitcoin no transporte rodoviário de mercadorias

Quem também tem sido notícia no transporte rodoviário é a iniciativa norte-americana Blockchain in Trucking Alliance (BiTA), criada em Agosto deste ano. O seu grande objectivo passa por utilizar a tecnologia de Blockchain no sector rodoviário de mercadorias, um sector que a entidade considera «ter a reputação de estar atrás na curva da tecnologia». E moedas digitais como a Bitcoin estão também no topo das prioridades, criando um sistema mais simples, mais digitalizado, com menos intermediários e muito mais seguro.