Pneus importados invadem mercado na Bahia

A tarde Uol

Mesmo com três fábricas de pneus no estado – Bridgestone/Firestone e Continental, na Região Metropolitana de Salvador, além de Pirelli, em Feira de Santana -, os proprietários de veículos de Salvador que estejam interessados em repor os produtos, até por precaução para um novo período de chuvas, terão dificuldades de encontrar as marcas dos fabricantes instalados no estado.

Com o efeito do câmbio facilitando a entrada dos importados, os produtos de países asiáticos dominam o mercado, com diferença de preços que chegam a 35%. Ling Long, Hifly, Kumho, Champiro, Hankook, Taishan, Falken e Black Lion são algumas das marcas mais comercializadas atualmente na capital baiana.

pneus

Segundo levantamento feito pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), órgão que integra a estrutura da Secretaria de Planejamento, as importações de pneumáticos no estado não se limitam apenas às vendas de reposição para veículos de passeio, mas também têm participação nos segmentos de transporte de carga e passageiros (caminhões e ônibus) e, sobretudo, em veículos e máquinas usadas na construção civil, agronegócio, mineração e manutenção industrial.

E os números impressionam: somente de janeiro a maio deste ano, considerando todos os segmentos de pneumáticos, 40.600 produtos entraram no mercado baiano, um aumento de 234,98% em relação à quantidade de 12.120 produtos que havia sido registrada no mesmo período no ano passado. Do total, cerca de 10.300 foram de pneus importados em geral e os usados em automóveis de passageiros, incluindo os veículos de uso misto, como utilitários (station wagons).

234,98%

Foi o quanto o volume de importados aumentou no mercado local, de janeiro a maio deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. A maioria dos pneus importados que ingressa no mercado nacional pela Bahia vem da China, segundo a SEI

Preço baixo

Os preços mais em conta, em um país marcado por pouco dinheiro em circulação, explicam a invasão dos importados. Para se ter uma ideia, a compra dos 12.120 pneus, de janeiro a maio de 2016, representou um montante de US$ 381.304, enquanto os 40.600 importados, no mesmo período, este ano envolveram valor bem menor: US$ 324.923 – por conta da queda maior do dólar no período, só considerando, em ambos os casos, o valor Fob (free on board), ou seja, antes dos custos de embarque.

A maioria dos pneus importados que ingressa no mercado nacional pela Bahia vem da China: os dados da SEI revelam que dos 40.600 pneumáticos já importados este ano no estado, 33.984 eram chineses. Eles dominaram praticamente 100% do comércio no ano passado, mas neste ano houve até uma leve inserção de produtos mexicanos (6.594) e americanos (apenas 22).

Segundo Robério Lima, gerente da loja Salvador Pneus, situada na Avenida Vasco da Gama, antes da crise econômica no país, as marcas importadas geravam certa desconfiança no consumidor. “Todos achavam que era material chinês sem qualidade”, conta. O que mudou, segundo ele, é que, com a necessidade de repor o item essencial para segurança nos carros e diante da falta de dinheiro suficiente para manter a fidelização às marcas tradicionais, “o consumidor foi, aos poucos, cedendo à tentação de experimentar os importados, impressionando-se com fatores como durabilidade e aderência, que fazem a relação custo/benefício extremamente vantajosa”, como ressaltou. Atualmente, 90% dos negócios da loja de Robério Lima é com pneus importados. “Começamos na década de 90, no início do Mercosul”, contou.

Imposto eleva preços e prejudica competitividade dos nacionais

A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) destaca a alta carga tributária no Brasil como  um fator que prejudica a competitividade dos produtos nacionais frente aos importados. O aumento da alíquota do imposto de importação da borracha natural de 4% para 14% seria um dos principais agravantes para a diferença de preços que chega até o consumidor final.

O setor espera que essa medida seja revista com urgência na próxima reunião da Camex

Klaus Curt Müller, empresário

De acordo com a entidade, toda a produção local da borracha é consumida internamente, não alcançando 40% do consumo total, tornando a importação obrigatória, “e assim causando efeito inflacionário na economia de forma horizontal, sem favorecer no seu todo a produção local da borracha natural”, como frisou a Anip, em nota. “O setor espera que essa medida seja revista com urgência na próxima reunião da Camex (Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior)”, afirmou o presidente executivo Klaus Curt Müller. Na agenda da Camex, há uma reunião prevista para dia 26, apra tratar de assuntos diversos.

Pelos dados da Anip, a produção nacional encerrou o primeiro quadrimestre de 2017 com queda de 1,7% no total de venda de pneus em relação ao mesmo período de 2016, fechando o total em vendas em 23,1 milhões de unidades. O destaque negativo ficou com as vendas de pneus industriais, como empilhadeiras (-5,4%) e veículos de passeio (-4,1%) que puxaram o índice para baixo. Contudo, foi registrado aumento nas vendas, para as montadoras, de pneus de passeio em 11,8%.

As vendas para o mercado de reposição fecharam o trimestre com queda de 0,2%, em relação ao mesmo período de 2016. O pior resultado é do segmento de pneus de passeio, cujo volume de vendas caiu 5%, ou seja, mais de 400 mil pneus deixaram de ser  vendidos.