PIORA A QUALIDADE DAS RODOVIAS BRASILEIRAS, SEGUNDO ESTUDO

23ª pesquisa CNT de Rodovias 2019 mostrou que 59% da extensão avaliada apresenta problemas, incluindo as concedidas; São Paulo e Alagoas detêm as melhores malhas viárias

A qualidade das rodovias brasileiras piorou no último ano. É o que mostra a 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada nessa terça-feira (22), pela Confederação Nacional do Transporte e pelo SEST SENAT.

De acordo com a CNT, o estudo constatou a piora nas condições das características observadas. O estado geral apresenta problemas em 59% da extensão dos trechos avaliados. Em 2018, o percentual foi 57%. Também está pior a situação do pavimento (52,4% com problema), da sinalização (48,1%) e da geometria da via (76,3%).

No ano passado, a avaliação foi 50,9%, 44,7% e 75,7% com problemas respectivamente. O número de pontos críticos identificados ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisados aumentou 75,6%. Passou de 454 em 2018 para 797 em 2019.

Na pesquisa da CNT, são avaliadas as condições de toda a malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais, também pavimentados. Nesta edição de 2019, foram percorridas todas as cinco regiões do Brasil, durante 30 dias (de 20 de maio a 18 de junho), por 24 equipes de pesquisadores. Além de abordar a situação das rodovias sob gestão pública e sob gestão concedida, o estudo também realiza o levantamento das infraestruturas de apoio, como trechos com postos de abastecimento, borracharias, concessionárias e oficinas mecânicas, restaurantes e lanchonetes disponíveis ao longo das rodovias.

Neste ano, uma novidade é o Painel CNT de Consultas Dinâmicas da Pesquisa CNT de Rodovias no site da Confederação, no qual é possível verificar os resultados nacionais e por Unidade da Federação, dados de investimentos, acidentes e meio ambiente, entre outros.

Custo elevado

De acordo com a Pesquisa, as condições das rodovias impactam diretamente nos custos do transporte. Neste ano, estima-se que, na média nacional, as inadequações do pavimento resultaram em uma elevação do custo operacional do transporte em torno de 28,5%, sendo que o maior índice foi registrado na região Norte (+ de 38,5%). Transporte mais caro significa produtos mais caros e menor. O presidente da CNT, Vander Costa, destaca a importância do investimento para que seja possível manter e expandir a malha rodoviária brasileira, garantindo a qualidade do tráfego de veículos. “É urgente a necessidade de ampliar os recursos para as rodovias brasileiras e melhorar a aplicação do orçamento disponível”, afirma.

Ainda de acordo com Costa, “a priorização do setor nas políticas públicas e a maior eficiência na gestão são imprescindíveis para reduzir os problemas nas rodovias e aumentar a segurança no transporte”.

Concedidas também têm problemas na qualidade

Engana-se quem pensa que rodovia concedida é sinônimo de qualidade. A 23ª Pesquisa CNT de Rodovias constatou que a má qualidade do estado geral da malha também atingiu os trechos concedidos à iniciativa privada.

De acordo com o levantamento, em 2019, 25,3% da extensão delas tiveram o estado geral classificado como regular, ruim ou péssimo; e 74,7% da malha concedida foi avaliada como ótima ou boa. A título de comparação, no ano passado, esses índices foram 18,1% para a avaliação negativa e 81,9% para positiva.

Entretanto, segundo a pesquisa, existem diferenças de qualidade oferecidas pelas concessionárias avaliadas. No caso das empresas com mais tempo de concessão e grande parte dos investimentos realizados, o resultado é mais favorável. Nas novas concessões, promovidas entre o segundo semestre de 2018 e o primeiro semestre de 2019, ainda não houve tempo hábil para se promover intervenções significativas e, por isso, elas ainda apresentam resultados pouco alinhados com o perfil geral das vias concedidas.

Por fim, existem também concessionárias com problemas financeiros, majoritariamente aquelas da terceira etapa do programa de concessões federais, que não cumpriram suas obrigações de investimentos e, assim, apresentam resultado pior do que o desejado.

Contudo, a avaliação das rodovias concedidas é bem superior à das sob gestão pública. Em relação ao estado geral, 67,5% da extensão das rodovias sob gestão pública apresentaram algum problema.

Acidentes: quase R$ 10 bilhões de prejuízos

Como é de conhecimento geral, os acidentes de trânsito causam enormes prejuízos ao país. No ano de 2018, foram registrados nas rodovias federais brasileiras 69.206 acidentes. O montante é da ordem de R$ 9,73 bilhões para o país, com a perda de 5.269 vidas e, ainda, com 76.525 pessoas feridas.

De acordo com a Pesquisa, o cálculo considera os prejuízos com veículos, cargas, despesas médico-hospitalares. Também considera a perda de produção das pessoas que morrem nas rodovias, parte delas ainda muito jovem.

As dez melhores ligações rodoviárias passam por SP

Outra notícia que a maioria dos brasileiros tem conhecimento é que o estado de São Paulo possui uma das melhores malhas viárias do Brasil. Tanto que todas as dez melhores ligações rodoviárias do país passam por São Paulo e são concedidas.

Vale lembrar que ligação rodoviária é uma extensão formada por uma ou mais rodovias (federais ou estaduais) pavimentadas, com grande importância socioeconômica e volume significativo de veículos de cargas e/ou de passageiros, que interligam territórios de uma ou mais Unidades da Federação.

D. PEDRO I: O entroncamento da D. Pedro I (SP-065) com a Campinas-Mogi (SP-340) lidera o ranking das 10 melhores ligações do Brasil. 

A pesquisa da CNT faz o ranking de 109 ligações. A pior avaliada é a ligação Natividade (TO) – Barreiras (BA), que inclui as rodovias BA-460, BR-242, TO- 040 e TO-280. Essa ligação também foi a mais problemática em 2018.

Dados que chamam a atenção

Dentre os vários dados levantados na Pesquisa CNT 2019, alguns são interessantes. Por exemplo, o Amazonas tem o pior estado geral da malha viária do Brasil. Todas as rodovias avaliadas apresentam algum tipo de deficiência no pavimento, na sinalização ou na geometria da via.

Assim como no Acre, onde todas as rodovias pesquisadas também apresentam problemas na geometria da via (que envolve a presença de acostamento, entre outras características).

Amazonas e o Acre são também os estados com os maiores problemas relacionados à falta de acostamento.

Amapá possui a pior avaliação das condições da sinalização. 87,8% da extensão avaliada apresenta algum tipo de problema.

Os estados de Alagoas e São Paulo são os que têm as melhores avaliações do estado geral, pavimento e sinalização. 86,4% da extensão pesquisada de Alagoas e 81,8% de São Paulo são consideradas ótimas ou boas.

Os estados do MaranhãoCeará Rio Grande do Sul concentram 49,8% dos 797 pontos críticos de todo o país. Foram identificados 213 no Maranhão (26,7%), 106 no Ceará (13,3%) e 78 no Rio Grande do Sul (9,8%).

Enfim , o Acre tem o maior aumento no custo operacional devido às condições do pavimento (66,3%), seguido por Amazonas (56,5%) e Pará (38,2%). A média nacional é de 28,5%.

Já Minas GeraisSanta Catarina Paraná são os estados que mais tiveram custos com acidentes em 2018. O prejuízo chega a R$ 1,26 bilhão em Minas Gerais, R$ 1,05 bilhão em Santa Catarina e R$ 1,04 bilhão no Paraná. No Brasil, esse custo foi de R$ 9,73 bilhões.